Dando sequência à realização de atividades que buscam fortalecer a história e a cultura afro-brasileiras na região do Vale do Café, o Ministério Público Federal em Volta Redonda (MPF/RJ) mediou acordo entre a Fazenda Santa Eufrásia e a Secretaria Municipal de Educação de Vassouras para a realização de visitas escolares periódicas no local, com o fim de garantir uma visão plural sobre a história, que permita a discussão sobre a trajetória do povo negro na região. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também está participando das discussões. A medida dá cumprimento a uma das cláusulas do termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado entre o MPF, a Defensoria Pública e a fazenda, em maio deste ano.
No local, pessoas negras vestidas como escravizadas serviam os turistas que visitavam o local e eram recebidos pela proprietária Elizabeth Dolson, que se vestia com roupas de época, representando uma sinhá. O TAC foi construído a partir de sugestões das comunidades quilombolas da região, do movimento negro e de professoras da Universidade Federal Fluminense. Foram realizadas reuniões no Rio de Janeiro e em Volta Redonda, com o envolvimento também da Comissão de Igualdade racial da OAB.
Em visita ao local em 30 de agosto, o procurador da República Julio José Araujo Junior pôde constatar o cumprimento da maioria das obrigações previstas no TAC. Pelo acordo, ficou estabelecida a não encenação ou a utilização de vestimentas por pessoas negras ou brancas que as caracterizem como “mucamas”, estendendo-se tal orientação aos visitantes e estipuladas diversas "obrigações de fazer".
Entre as medidas previstas, há um pedido de desculpas público pela proprietária, que já foi disponibilizado no sítio eletrônico da fazenda, em vídeo e em texto, com o seguinte teor:
"Conforme a Cláusula 10 do Termo de Ajustamento de Conduta assinado com o Ministério Público Federal no dia 02 de maio de 2017, apresento um pedido de desculpas público à comunidade negra. Que a assinatura e o cumprimento deste Termo de Ajustamento de Conduta sejam formas de reconhecimento, de reparação, e que possam materializar, em todas as ações previstas, minhas sinceras desculpas. Se, em geral, as fazendas abertas à visitação no Vale do Paraíba apresentam roteiros históricos de forma incompleta e injusta com a população que aqui foi escravizada e que ergueu a riqueza desses vales de café, agora celebramos a possibilidade de construção de outra narrativa desta história.
Como representante da Fazenda Santa Eufrásia, exemplo de fazenda de café do século XIX, comprometo-me a incorporar a história daqueles e daquelas que aqui foram escravizados, de forma que valorize sua resistência à opressão, e a valorizar o patrimônio cultual construído por seus descendentes na região do Vale do Paraíba, ampliando suas possibilidades de visibilidade, sustentabilidade, pertencimento e garantia de direitos em nossa sociedade nos dias de hoje".